No fim dos anos 40, o Brasil vivia um momento de
êxtase futebolístico. A construção de dois estádios, o Independência, em BH e o
Maracanã, no Rio, movimentavam grande parte da economia e da atenção da mídia
nacional. Em campo, a seleção empolgava. O time treinado por Flávio
Costa e liderado pelos craques Zizinho e Ademir “Queixada” venceu o
Sulamericano de 1949. Em 1950, vitória na Copa Rio Branco contra Uruguai e Paraguai
em dois amistosos.
Durante a Copa, esse clima de euforia e comoção
nacional foi multiplicado. Depois do empate (2 a 2) com a Suíça no Pacaembu,
ainda na primeira fase, o time brasileiro deu show. Vale destacar a
impressionante vitória contra a “Fúria Espanhola” por 6 a 1, três dias antes da
“final” contra o Uruguai. O cheiro de vitória estava no ar e nos jornais.
O
Maracanazzo
Dia 16 de julho de 1950, o grande momento. Maracanã
lotado por mais de 200 mil pessoas (a Fifa registrou 173.830). No
começo da partida, o Brasil atacou incendiado pela torcida, mas o Uruguai
conseguiu acalmar o jogo. No início do segundo tempo, logo aos dois minutos,
gol de Friaça. Loucura no Maracanã, mas Schiaffino, aos 21 minutos, e
Ghiggia, aos 34, sempre em jogadas em velocidade pela direita viraram o jogo
para a celeste olímpica.
A jogada que marcou a vida do goleiro Barbosa |
O som do silêncio era a tônica do estádio.
Tornava-se fato a maior derrota da história do esporte nacional, o Maracanazzo.
E como em toda grande tragédia, alguém teve de ser o culpado. O eleito? O goleiro Barbosa.
Por ironia do destino, depois de se aposentar,
Moacir Barbosa ganhou um emprego como administrador da academia do Maracanã.
Era funcionário da antiga Adeg (Administração dos Estádios da Guanabara), a
atual Suderj. E em 1969, após a instalação das balizas de metal no Maracanã,
ganhou de presente às traves de madeira. As mesmas que marcaram negativamente
sua vida esportiva. O que ele fez com elas? As queimou em um churrasco na sua
casa.
Goleiro Barbosa revoltado após sofre o gol de Schiaffino |
A
derrota, o complexo de vira-latas e o bode expiatório.
A partir dali, muitas coisas aconteceram. Naquela
tarde de domingo, homens se mataram por desgosto após a derrota. Não só o
futebol, mas a autoestima nacional foi abalada.
Nelson Rodrigues, mestre das crônicas, afirmou que
o Brasil vivia um “complexo de vira-latas”. Nas palavras dele, “complexo
de vira-lata é a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente,
em face do resto do mundo (...) o brasileiro é um narciso às avessas,
que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais
ou históricos para a auto-estima”.
E esse complexo de vira-latas, acredito, está
presente até hoje na nação brasileira. Afinal, somos um grande país, a
sexta economia do mundo. Mas ainda temos uma postura de “vira-lata” com
relação aos problemas mundiais.
Aí eu pergunto a vocês, E SE o Brasil tivesse
vencido a Copa de 1950? O que poderia ter sido diferente?
Eu penso que muita coisa teria sido modificada.
Somos a “pátria de chuteiras”, afinal temos cinco títulos mundiais de futebol,
mas será que isso é o suficiente?
Não. Desde os primórdios, o nosso esporte sobrevive
da “boa vontade” dos políticos. Não temos um campeonato nacional organizado, os
torneios têm calendários absurdos e volta e meia vivemos situações que colocam
em dúvida a credibilidade dos gestores do futebol nos clubes e nas instituições
que comandam o esporte nacional.
Se tivéssemos vencido naquele trágico
domingo, 16 de junho de 1950, muitas coisas, certamente, seriam diferentes.
O governo brasileiro poderia usar o esporte como plataforma para uma
demonstração das capacidades nacionais para todo o mundo.
Naquele momento histórico (pós-guerra),
teríamos uma oportunidade ímpar de “vender”, no melhor sentido da palavra, as
qualidades inatas do brasileiro (criatividade, inovação e talento) para o mundo
(claro que isso poderia ser usado de outra forma pelos políticos, mas como
estamos numa situação hipotética, vamos pensar nas possibilidades positivas,
ok?).
O orgulho nacional da vitória poderia colocar
nossos homens e mulheres mais destemidos em enfrentar os problemas cotidianos,
ou seja, solucionar a questão ao invés de “dar um jeitinho”.
Mas, infelizmente, o SE não existe e a única
certeza que temos é que se o Brasil tivesse vencido, Barbosa seria recompensado
pelo ídolo que foi (goleiro do Expresso da Vitória do Vasco) e que, com
certeza, as traves do Maraca estariam no Museu do Futebol!
E você, o
que acha que aconteceria se o Brasil vencesse em 1950?
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